sábado, 15 de dezembro de 2012

NOMES DE BATISMO

                                                                                  Hermance Gomes Pereira*

                        No final da década de sessenta, quando ingressei na escola primária, já estava acostumado com o nome que carrego. Não que fosse comum: até hoje não é, só conheço um outro que divide o fardo.
                        A maioria dos nomes próprios ouvidos era mais , digamos, normal. Havia um André, um Fernando, alguns Carlos e Robertos, uma Patrícia , uma Luciana, uma Ana, um Paulo, etc. Dava para conviver. O exótico ficava por conta de um Syès, acho que em homenagem ao abade.
                        Não que deixassem de existir nomes pesados. Lembro de um imberbe Karl Marx de seis anos de idade, irmão da beldade escolar Rosa Luxemburgo. Mas eram exceções.
                        Antigamente até se usava prestar homenagens a personagens históricos. Daí os Wilsons, os Napoleões, Churchils, Delanos e outros chefes de estado. Também personagens de célebres e marcantes romances eram lembrados, justificando as Ana Kareninas, Capitús e Inocências.
                        Não sei o que aconteceu, entretanto, de lá para cá. O que deu na cabeça dos pais para infelicitar tanto os  inocentes rebentos? Há quem diga que é efeito da globalização, uma espécie de subcolonialismo moderno. A famosa influência americana sobre nossa cultura.
                        O fato é que tenho visto uma avalanche de nomes , na melhor das hipóteses, incomuns , atribuídos aos pequenos. Desde o anônimo RUMENIGUE , lembrando vagamente o atacante alemão, que bate bola nas praias de Cabedelo, até o já consagrado DEIVID, fazendo gols nos times profissionais. Já que falamos de futebolistas, vale mencionar  os craques ALANDELON, MAICON e ODIVAN (este último homenageando a música O DIVÃ de Roberto Carlos). Não pode ser esquecida também a doce KASTULLENN, que ainda não sabe dizer como se chama. Também, coitada, só tem sete aninhos: um dia ela consegue.
                        A nefasta criatividade dos pais é  inesgotável. Neologismos são acrescidos todos os dias. Sem falar na mistura dos nomes do pai e da mãe, que produz resultados bombásticos.
                        Apesar de deparar-me diariamente com nomes próprios estranhos em razão do ofício – no momento Juiz dos Registros Públicos – confesso que não estava preparado para  ouvir em audiência o  jovem PENISVALDO.
                        Francamente, que raio de homenagem foi essa?
                        Ao menos Peninho (como carinhosamente era chamado pelos  pais orgulhosos) era bem humorado. Pouca mágoa demonstrou para com os colegas que chamavam-no por todos os sinônimos chulos do membro inspirador do nome. Não vislumbrei danos irreversíveis em sua personalidade apesar de ter conduzido a cruz por contados 18 anos. Sim, porque no dia seguinte ao décimo oitavo aniversário, Peninho, agora maior de idade, ajuizou  a competente Ação de Retificação de Assentamento de Registro Civil, requerendo imediata mudança de nome.
                        Evidente que o pedido foi deferido.

*Jornalista – DRT PB 1929

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