sábado, 15 de dezembro de 2012

Mozart e o Rei do Baião

MOZART E O REI DO BAIÃO

Hermance G. Pereira

                                                           Antes de tudo é necessário deixar claro que não se pretende traçar qualquer comparação entre Luiz Gonzaga e Wolfgang Amadeus Mozart. Viveram épocas diferentes, trabalharam contextos diferentes, e dedicaram-se a estilos musicais distintos. Um tornou-se mundialmente conhecido, considerado, ao lado de Beethoven e Bach um dos maiores gênios da música em todos os tempos. Outro desbravou em terra virgem, cantando o Nordeste para um Brasil que só se enxergava “da Bahia para baixo”. Um compôs e tocou para reis e imperadores, outro subiu nas boleias de caminhões e tocou para retirantes e párias.
                                                           Também não é de bom alvitre comparar o tipo de música que produziram, ou por outra, tentar estabelecer qual dos dois compôs a “melhor” música.  Talvez, tecnicamente falando,  possam os entendedores de teoria musical expor tópicos relativos à harmonia, técnica de composição, compassos, dimensão da obra, percepção musical, etc. Igualmente seria simplório e leviano restringir a discussão a um epidérmico comentário do tipo: “cada um tem sua preferência musical”. Não entremos nesse mérito.
                                                           O fato é que esses dois compositores têm, no mínimo, um traço em comum: Foram maçons. Mais ainda, compuseram música para a Maçonaria. Indo além, ambos estiveram regulares em suas respectivas Lojas até a partida ao Oriente Eterno.
                                                           Gonzagão compôs o clássico “Acácia Amarela”,  letra e música. Foi um  “feliz operário, onde aumento de salário não tem  luta nem discórdia”. Ele realmente sentia-se bem “naquela casa direita, que é tão justa e perfeita”. Reconhecia que ali “o mal é submerso e o Grande Arquiteto do Universo é Harmonia e Concórdia”.
                                                           Acácia Amarela, com toda a simbologia maçônica que carrega, em suas diversas gravações, com muitos intérpretes,  inclusive o próprio “Lua” tornou-se uma das músicas mais executadas pelos Mestres de Harmonia em sessões ritualísticas. Foi iniciado nos augustos mistérios na Loja Paranapuan, do Grande Oriente do Brasil, no Oriente do Rio de Janeiro (Ilha do Governador) em 03 de abril de 1971. Elevado ao grau de Companheiro em 14 de dezembro de 1972 e Exaltado Mestre Maçom em 05 de dezembro de 1973.
                                                           Mozart foi membro ativo e regular, até sua prematura morte aos 35 anos - em 1791, da Loja  St. Johannes Zur Neugekrönten Hoffnung , em Viena, Áustria, onde fora iniciado em 14 de dezembro de 1784. Alguns de seus biógrafos[1] afirmam que morreu sem a assistência de um sacerdote católico (religião que professava) que se recusou a prestar-lhe os últimos sacramentos face sua condição de Maçom.
                                                           Através do Balaústre da Sessão Magna de Iniciação do Irmão Mozart[2] verifica-se que o Irmão Secretário “esqueceu de registrar e dar ciência sobre este membro proposto”. Ou seja, o secretário de ofício não publicou o edital  em tempo hábil.  Mesmo assim, Mozart iniciou.
                                                           Sua Loja funcionava no mesmo templo da Loja Zur Wahren Eintracht. Estas freqüentemente realizavam sessões conjuntas, para ouvir o seu Mestre de Harmonia – e que Mestre de Harmonia – dirigir pessoalmente “lieder” e cantatas baseadas em textos de autoria de irmãos da Loja. Algumas peças recém compostas eram estreadas em Loja.
                                                           Apesar de sua partida prematura ao Oriente Eterno, o Irmão Mozart deixou uma obra vastíssima, que ainda  hoje transcorridos mais de duzentos e dez anos de sua morte, é objeto de estudo e descobertas, para não dizer de veneração entre os apreciadores da boa música.
                                                           Não é possível, portanto, nos limites desta pequena reflexão,  garimpar os trabalhos com orientação maçônica compostos pelo gênio Mozart.
                                                           Muitos elementos maçônicos podem ser encontrados, ainda que presentes nas entrelinhas, por exemplo, em “A Flauta Mágica” um de seus trabalhos mais conhecidos.
                                                           Outros trabalhos, principalmente do tipo “lieder” foram deliberadamente compostos para sessões maçônicas. Exemplos,  K.148 para canto com acompanhamento de piano ou cravo: “An die Freundschaft – Lobgesang au die feierliche Johannisloge” (À Amizade – Cântico  Solene para uma Loja de São João). K.468 para tenor com acompanhamento de piano: “Gessellenreise” (Viagem do Companheiro), composta para comemorar a elevação de seu pai Leopold Mozart ao grau de Companheiro Maçom. K.471 cantata em mi bemol para o coro masculino a três vozes, solo de tenor e orquestra: “Die Maurerfreude” (A Alegria Maçônica).
                                                           Já enfatizada a impossibilidade de elencar toda a obra maçônica de Mozart, vale apenas indicar a obra do Ir:. Descartes Teixeira, Mozart, Vida , Obra e suas Relações com a Maçonaria , para os interessados em maior aprofundamento.
                                                           Gratificante é saber, entretanto, que dois homens de origens e formações tão diferentes, dois compositores de estilos e séculos distintos, tiveram  em  comum um  ideal. Salzburgo, Áustria , ficou mais perto de Exu, Pernambuco.


[1] MASSIN, Jean & Brigitte, em Wolfgang Amadeus Mozart, Fayard 1990, pág. 573
[2] TEIXEIRA, Descartes de S. MOZART. São Paulo. Traço Editora, 1991, pág 67

Nenhum comentário:

Postar um comentário